Rio Grande do Norte, em cada esquina uma poesia. Os poemas potiguares são únicos e podem ser encontrados em todos os cantos do estado. Clássicos ou contemporâneos, escritos por homens e mulheres, a poesia potiguar merece mais atenção.
Quantos poemas potiguares você conhece?
A poesia é uma forma de arte que consegue tocar bem no fundo. Muitas vezes, o simples ato de ler palavras poéticas organizadas em versos ritmados pode alegrar um dia inteiro, principalmente quando nos faz lembrar de situações e lugares importantes.
Nesse sentido, o Rio Grande do Norte é um estado reconhecido por seus grandes poetas, que sempre escreveram sobre o lugar de onde vieram e sobre as coisas mais lindas do estado e da vida. Por ser um estado nordestino, já tem a poesia na veia e mesmo dentro de uma cultura conhecida como oral, considerando os cordéis que são inspirados em relatos orais e repentes, a poesia escrita consegue se destacar.
Mas, quantos poemas potiguares você conhece?
Se você gosta de poesia e não conhece muitos poemas, confira a seguir 5 belíssimas obras de autores clássicos e contemporâneos do estado.
5 Poemas da poesia potiguar que você precisa conhecer
1. O Cântico da Terra, José Bezerra Gomes (Currais Novos-RN)
“Nunca percorri as cinco partes do mundo:
Oropa, França e Bahia,
Mas vi os retirantes da minha terra
Nas longas caminhadas das grandes secas
Como se fossem os sobreviventes
De todos os cataclismos.
Nunca vi o espetáculo das belas cataratas do mundo
Mas vi os rios da minha terra
Correndo nas grandes cheias
Com a violência das correntezas
Que nunca foram navegadas.
Nunca vi as grandes Orquestras Sinfônicas
Regidas pelos grandes maestros internacionais
Mas escutei o toque dos cegos das feiras nordestinas
Como se uma lágrima estivesse rolando na face
De todos os cegos do mundo.”
2. Um poema de Ada Lima (poetisa de Areia Branca, que reside em Natal-RN)
“O pânico que me escorre das mãos
não é outro
senão
o de ter que ancorar navios
no vazio.”
3. Cabala, Jeanne Araujo, 2015 (Ceará-Mirim-RN)
“Quando arqueio as costas
vibro igual violino
e mesmo as amarras
mordaças e estacas
não me bastam.
A voz, a tua, arrepia
as porcelanas, os quadros
e estremeço
onde o corpo de contrai.
Meu horror é teu mandamento
consentido em meu corpo inteiro.
Se preciso eu uivo, sibilo
acendo tua vela, teu pavio, tua adaga
porque és armadilha de cilício
no meu ventre.”
4. Na Piscina, Gilberto Avelino (Assú-RN)
“Aquém do mar,
a piscina
de águas azuis.
As sombras,
os ventos,
as mesas,
brancas,
circulando
a piscina.
A suavidade
da água de cocos.
Ou o doce e fino
sabor
da água das fontes,
após
comer-se
a leve gordura dos cascos,
a clara carne
das patas
dos vermelhos
caranguejos cozidos.
Ainda,
a carne seca,
assada nas brasas,
flamejando.
Em copos de cristal,
a tênue espuma
do vinho
branco
ou tinto,
com verdes-azeitonas
boiando.
Enterneciam a manhã
os blues
de Louis Armstrong.
Aquém do mar,
a piscina
de águas azuis.
De repente
vinhas,
a davas ao corpo
a carícia das águas.
Com o exíguo vestir,
em relevo expunhas
ao sol
o viço
da inapagável beleza
do teu corpo.
E do olhar
nasciam-me
salsas enlaçantes.
Não te esqueças,
portanto,
girassol de dezembro,
de que sempre volto
a ver
o azul dessas águas.”
5. Um poema de Regina Azevedo (Natal-RN)
imagem retirada de https://www.instagram.com/p/BwhJt-AlPiE/
“Tomar catuaba com você
Tomar catuaba com você
é ainda mais tesudo
que ir a Hellcife, Natal, Fortaleza
ou ficar sequelado de 51 na Lapa
em parte por dançar forró com um mendigo suado
em parte por você ser o boy com o quadril mais eficiente do mundo
em parte por causa do meu amor por você
em parte por causa do seu amor por maconha
em parte por causa dos ipês albinos na estrada de Brasília
é difícil de acreditar quando estou com você
na existência de algo tão inerte
tão inodoro e ao mesmo tempo tão putrefato
quanto o atual Presidente da República
Nós andamos entre as fantasias da nossa canção
e de repente você se pergunta por que caralhos
alguém construiria um edifício atrapalhando o carnaval
Eu imagino o desmoronamento de um arranha-céu
e eu prefiro assistir ao acontecimento
de um desastre natural refletido nos seus olhos
Eu prefiro ver o seu sorriso diante de um maremoto
diante da falência da agroindústria ou das imobiliárias
a ver qualquer quadro pós-impressionista
exceto talvez Lautrec porque quando eu danço com você
eu não preciso fechar os olhos pra dançar com a melhor pessoa do mundo
Tomar catuaba com você
é ainda mais tesudo
que te assistir tragando um míssil
que ouvir você falando da potência das flores
que reposicionar a cama no lugar
que tropeçar e te encontrar
repetindo a palavra calma
enquanto o vento nos dá um sacode
e você diz que sente
a primavera fazendo cócegas
em nossas barrigas”
No post de hoje você pôde conhecer 5 lindos poemas potiguares. O que achou? Conhece mais algum poema que precisa ser visto? Conte-nos através dos comentários!
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